A escritora indígena e psicóloga Geni Núñez tem ganhado destaque no cenário literário brasileiro com seu livro Descolonizando Afetos, lançado em 2023. O título foi um dos mais vendidos na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) de 2024, consolidando Núñez como a autora mulher mais vendida do evento. A obra propõe um olhar anticolonial sobre as relações afetivas, desafiando conceitos tradicionais como a monogamia e trazendo reflexões baseadas em saberes indígenas, especialmente da cultura Guarani.
Com uma linguagem acessível e sensível, o livro explora novas formas de amor e convivência, abordando a pluralidade das relações contemporâneas e os limites impostos por estruturas coloniais. O sucesso da obra na Flip reflete um crescente interesse do público por narrativas que questionam o status quo das relações afetivas e buscam alternativas ao modelo monogâmico hegemônico.
Além disso, o impacto midiático tem sido amplamente positivo, com discussões sendo promovidas por veículos de comunicação e redes sociais, destacando a relevância da temática decolonial no atual contexto social.
A ascensão de Núñez também está conectada ao movimento mais amplo de valorização das vozes indígenas e decoloniais, que oferecem perspectivas inovadoras sobre questões como ancestralidade, etnicidade e afetos. Ao inserir esses temas no debate público, Núñez contribui para ampliar o entendimento sobre o papel da cultura indígena na construção de novas formas de se relacionar, desafiando noções tradicionais de amor e pertencimento.
O sucesso do livro e a repercussão midiática, além das vendas expressivas na Flip, demonstram o quanto o público está sedento por reflexões que expandem as fronteiras dos afetos e que dialogam com o pensamento crítico decolonial. Isso reforça a importância de obras como Descolonizando Afetos, que não apenas questionam o presente, mas também apontam caminhos possíveis para o futuro das relações humanas.
Como Núñez escreve: “Não há um jeito único de estar e se relacionar no mundo”, evocando a liberdade emocional e a pluralidade de formas de amar que são constantemente moldadas pela cultura e ancestralidade, e que devem ser reimaginadas fora das normas coloniais.
Temas como os afetos descolonizados refletem um desejo crescente por formas de viver e se relacionar que escapem aos modelos tradicionais, muitas vezes vistos como restritivos e coloniais. Esse interesse está relacionado a diversas transformações sociais e culturais, como a valorização das vozes indígenas, feministas e decoloniais, que questionam estruturas de poder e hierarquias emocionais impostas ao longo da história.
Há um crescente desejo por pluralidade afetiva, com mais pessoas explorando relacionamentos não monogâmicos, estruturas familiares alternativas e modos de convivência que fogem aos padrões hegemônicos, como o casamento monogâmico ou as hierarquias emocionais impostas pela sociedade ocidental. Ao discutir as relações através de uma lente decolonial, Núñez desafia não só a ideia de amor romântico tradicional, mas também conceitos como propriedade, controle e exclusividade nas relações.
Além disso, a obra da autora oferece uma narrativa profundamente enraizada em conhecimentos indígenas, o que dialoga com um movimento mais amplo de resgate e valorização de saberes ancestrais, cada vez mais relevante no contexto atual de questionamento das políticas coloniais e eurocêntricas. Em tempos de crises ambientais, sociais e emocionais, muitas pessoas buscam formas mais autênticas e sustentáveis de viver e se conectar com o outro, o que torna os temas abordados no livro especialmente atraentes. Por isso, a descolonização dos afetos ressoa com aqueles que desejam repensar suas relações com base na liberdade, diversidade e respeito mútuo.
Por Elisa Lokschin Heberle